Não há nada de muito filosófico a escrever… já está tudo escrito… e mesmo que não esteja… a paciência esgota-se… para quê andar a consumir preciosos momentos numa tentativa fracassada de relatar instantes que derivam pelo nosso pensamento…
Hoje acordei, atrasadíssima, como sempre, não tinha nada de especial para fazer, na verdade não tinha nada para fazer, mas isso não me impedia em nada de acordar atrasada.
Estava atrasada para começar a viver.
Saí da cama a muito custo, a preguiça é péssima, pus o roupão… desci as escadas, a lamentar-me num tom de fúria… tinha-me completamente escapado o facto de já não haver café há dois dias… sem café e atrasada… numa manhã perdida, numa vida ensonada, a falta de café é a completa desgraça… Bebi chá. Afundei-me no sofá, a televisão portuguesa não dá nada de jeito e tinha acordado tarde de mais para ver a Floribella…
Sem café, atrasadíssima… e sem novela… a minha vida estava um caos!
Não sei como sobrevivi ao restante dia… enfiei-me no chuveiro… a dormir debaixo de água… com o belíssimo sol a brilhar a uma janela de distância. Era hora de almoço, com sono, sem café, sem novela… tinha que cozinhar!
As horas seguintes foram ocupadas por um esforço desumano, que incrivelmente nos deixa uma sensação de liberdade estranhamente acolhedora… completamente esgotada… regresso a casa.
Novo banho, novo lamento… horas desperdiçadas de uma vida em que acordei muito atrasada.
Fecho os olhos… imagino viagens, lugares, café, despertadores… aventuras… estou a morrer de sono… inclino a cabeça… contemplo o infinito… estou feliz, mesmo adiando um dia da minha vida. Um dia em que falhei inúmeros momentos… desperdicei segundos… enfim, acordei atrasada para compromissos que não tinha…